Green Flash no Brasil – Sim, isto já deve ter acontecido. Mas nunca passou em minhas mãos, ao menos. As cervejas que você verá neste post são daquelas que quanto mais jovens, mais frescas, melhores. Não servem pra envelhecer, tampouco pra ficarem em temperatura ambiente. E a Importadora Buena Beer levou isto à sério: as cervejas vieram dos Estados Unidos pro Brasil de avião! Ou seja, ao invés de levar lá seus um mês, um mês e meio de navio à céu aberto, chegaram em horas ao destino.
Mas isso não adianta de nada se as cervejas forem “fracas” sensorialmente falando. E por isso que te digo: pode perguntar por ai pra quem já as provou, ou melhor ainda, prová-las e você sentirá a mesma coleção de prazeres que senti nesta degustação.
Coloquei aqui em ordem alcoólica, mas não as fiz assim. Coloquei em ordem de lúpulo, portanto se puder, faça do jeito que você achar mais bacana, mas beba todas!
Hop Odyssey Mosaic Session IPA
Session IPA de 4,5% ABV e 65 IBU
Talvez este lúpulo seja o mais bacana da “nova leva” de lúpulos. Esta Session single hop de Mosaic de cor âmbar-laranja com um dedo de cabeça branca, tem aroma cítrico, frutas tropicais, pinho, maltes, e uma excelente carga verde, que lembra grama cortada. Gosto é bastante semelhante ao aroma contando com uma avalanche cítrica e de frutas tropicais. Tem um corpo médio com um paladar cremoso e um moderadamente amargo, levemente seco e de acabamento médio-longo.
Como toda boa IPA, combina muito com comida condimentada, mas por se tratar de uma cerveja bem leve (lembre-se, é uma Session) optei por beliscar uma saladinha coberta de mix de pimentas moídas na hora e páprica.
Hop Odyssey 30th Street Pale Ale
American Pale Ale de 6,0% ABV e 45 IBU
Feita com lúpulos Warrior, Cascade e El Dorado, ela se diz pronta pra atender às exigências dos Hopheads acostumados com boas IPAs. Vou além: leva um monte de IPAs (e isto incluindo as americanas) no bico!
Com cor laranja brilhante, no nariz é floral e picante, com outras diversas complexidades vindas do lúpulo, algumas frutas e o malte levemente presente. O sabor é predominantemente de frutas cítricas em sua maioria com algum toque de malte. Solidamente seca e com uma carbonatação viva, sua boca é tomada por um aftertaste terroso. Acabamento médio bem quentinho e seco.
IPAs para desafiá-la?
Soul Style IPA
IPA de 6,5% ABV e 75 IBU
Segundo a Green Flash, esta India Pale Ale tem altas cargas de Citra, Simcoe e Cascade que vem “em ondas lupuladas” e que isto tudo serve para te deixar “amarradão como pegar uma onda (surf)”. Ou ao menos eu acho que a onda é de surf…
De cor laranja clara e um tanto turva, com cabeça branca, alta e persistente. Aroma é de frutas cítricas, principalmente laranja, e de frutas tropicais, com destaque pra manga, mas também tem pinheiro e bastante malte. O sabor é semelhante ao aroma com um monte de laranja e manga e ainda com um perfil de malte no fundo. Tem um corpo médio com um paladar cremoso e já pesadamente amargo, seco, acabamento médio-longo. Realmente você sente as ondas de choque amargas, num frescor incalculável. Belíssima representante do estilo!
Hop Head Red (versão 2014)
Double Red IPA de 8,1% ABV e 70 IBU
Esta cerveja já apareceu aqui, tempos atrás, quando a Buena Beer iniciou as importações das americanas Green Flash. Alias, você viu elas primeiro aqui e agora novamente Mas e? E que ela mudou de categoria! Agora a Hop Head Red (desde 2014 alias) passou de 7% de álcool para os atuais 8,1% e, se minha memória gustativa não falha, ela chegou ainda mais perto do que um hophead deseja!
De cor castanha escura e um pequeno topo âmbar que gruda mesmo na taça! Ligeiramente turva. O aroma destaca o caramelo e toffee vindos do malte torrado com uma sensação de terra e resinas bem vibrantes, vindas claro, do lúpulo. Alias a carga lupulada aqui é feita com muito Amarillo, Warrior e Nugget e depois ainda um belo dry hopping de Amarillo. O corpo é médio e completo. O sabor tem um que de malte que logo desaparece com a mordida amarga do lúpulo que, secamente, perdura no final. Achei incrível esta renovação, a carga de malte mais aparente, dando um corpo pra lá de necessário numa boa IIPA.
Como já dito, uma boa IPA pede pimenta. Aproveitei que fritava uns camarões e coloquei umas fatias de habañero em cima! Dai foi assim: camarões sequinhos, um pouquinho de salsa e uma pimentinha. Haja Red IPA pra aplacar o fogo!
Imperial IPA
Imperial IPA 9,8% ABV e 101 IBU
Imperial IPA. Simples assim. Ou nem tanto, ela se autodenomina “o rei das montanhas de lúpulos”. Alias as montanhas são de Summit e Nugget e o desafio é subir e de lá, apreciar a pancada. Mas pera ai: “você não disse que ia colocar em ordem alcoólica?” Sim, a última é a Palate Wrecker pow! Continuando…
A mania de grandeza desta IIPA começa pela garrafa: somente de 22 onças ou os famosos 650 ml. Não existem garrafas menores dela. E não adianta melindrar, o negócio é encara. Mas ao por no copo, a boca saliva! Um profundo ouro-alaranjado com uma bela cabeça persistente âmbar. O aroma de abacaxi e laranja toma conta do nariz, mas revela lá no fundo um dulçor maltado interessante. Mas o frescor verde é o que rouba a cena, transportando você para uma floresta de pinheiros… Na boca as surpresas são demais: nada de agredir a língua, a cerveja é incrivelmente balanceada, apesar do claro domínio do lúpulo. No fim o álcool (bem vindo alias) aparece com certa robustez. Corpo pesado e final muito seco e longo. Aftertaste amargo e alcoólico. Obra prima!
Imperial IPA fresquíssima que vale à pena correr atrás, antes que ela envelheça. Mas acho que ela acaba antes disso.
Palate Wrecker
Imperial IPA 9,5% ABV e 100+ IBU (149 IBU especulados)
Palate Wrecker. Ao pé da letra seria algo como naufrágio do paladar… Mas na prática esta Imperial IPA que leva Centennial, Columbus e Simcoe na proporção de 1 kg a cada 60 litros (!!!) não só afunda seu paladar como também te demonstra ser uma das melhores cervejas que se pode esperar ao pensar em “cerveja lupulada”
Dourada bem escura, quase cobre e com uma cabeça fofa e persistente, de aroma requintado, um floral pesado com lichia, maracujá, abacaxi e toranja. Leve caramelo e toffee de fundo. Na boca uma bomba de lúpulos! Pesado amargor resinoso (acredito piamente nos 149 IBUs especulados). Mas há uma doçura encantadora! Geleia de laranja, damasco, mel e caramelo aparecem no fim, dando um tom de equilíbrio inesperado. A textura é ligeiramente cremosa. Uma Imperial IPA complexa, maravilhosa e… equilibrada! Realmente afundou meu paladar!
Para fechar em estilo primoroso a degustação, nada melhor que um Steak Tartare (ou Hackepeter ou Carne de Onça) homemade acompanhando esta obra prima de cerveja!
Os condimentos do prato casam como almas gêmeas com a cerveja!
E sim, vou dar uma de Ana Maria Braga e lá vai a tão pedida receita deste prato (kkkk):
– 350 gr. de filé mignon FRESCO bem picado na faca (nada de moer!)
– gema de ovo crua (eu uso 2 de codorna)
– 2 colheres de chá de cebola roxa bem picada
– 1 colher de chá de alcaparra picada
– 1 colher de chá de molho inglês
– 1 colher de chá de mostarda Dijon
– Tabasco (eu prefiro o chipotle)
– 1 colher de chá de maionese
– 1 colher de chá de ketchup
– sal, azeite, pimenta, páprica e salsinha a gosto.
Misture todos os ingredientes (incluindo a gema crua) até ficar uma pastas homogênea e depois misture com a carne até formarem uma só massa. Coloque salsinha em cima, para decorar e corte com cuidado o segundo ovo de codorna (se assim preferir) e decore o prato como você vê na foto. Na hora de comer, despeje o segundo ovo e estoure a gema. Se gostar de ardência, pingue mais umas gotas de tabasco em cima e jogue uma pitada de páprica. Seja feliz.
Espero que tenham gostado deste post enorme, incluindo a possibilidade de repetir a receita, lembrando que a carne crua deve ter procedência e ser preparada no mesmo dia.
Gostaria de agradecer imensamente a Buena Beer pelas cervejas e mais uma vez enaltecer o trabalho impecável que fazem com suas importações. Obrigado ainda a minha amada Joice, que me ajuda com os pratos e com as imagens.
Saúde!